domingo, 10 de março de 2024

A beleza é fundamental

 


A beleza existe em si, ou depende de quem vê? Devemos nos preocupar com a beleza ou é uma futilidade? Existe uma razão para a beleza existir? Como podemos cultivar a beleza? Essas são algumas perguntas que este artigo quer ajudar a refletir.

Conceito de beleza

O conceito clássico de beleza a define como sendo belo aquilo que possui harmonia, proporção e grandeza. Neste conceito, a beleza é objetiva, ou seja, existe em si mesma e não depende de quem está observando.

A beleza deriva do bem, do verdadeiro. Ela tem uma conotação moral, ou seja, para afirmarmos que alguma coisa é bela, ela também precisa ser boa e verdadeira. Por exemplo, quando repreendemos uma criança que está batendo num amiguinho, normalmente dizemos: “não faça isso que é feio”. Ou quando elogiamos alguém, dizemos: “nossa, que bela atitude”.

A beleza também tem o sentido de integralidade, de plenitude. Aquilo que é belo, está completo, não falta nada. Um cavalo sem uma perna ou um carro sem uma roda não são bonitos, pois lhes falta algo. Já uma pessoa, por mais que possa ter um corpo bonito, se possuir graves falhas de caráter, não é considerada bela, pois lhe falta algo.

O belo possui harmonia, proporção.

Mais uma característica da beleza é ter um aspecto de saída de si mesmo, de comunicar a sua essência. Aquilo que é belo chama a atenção para si mesmo, pois está comunicando o que é. A beleza não deve passar desapercebida. Ela existe para ser contemplada.

A razão de ser da beleza

Tudo que é belo, ao ser contemplado, deve remeter a algo maior, a uma beleza superior e eterna. Deus, o Criador, é a Beleza eterna e comunicou algo de si para as suas criaturas. Por isso, a beleza que percebemos com nossos sentidos é como uma flecha que aponta para o Criador e a alegria e satisfação que sentimos deve nos lembrar que é só uma pequena amostra do que sentiremos ao contemplar a pura Beleza na eternidade.

As coisas belas existem para serem um bálsamo em nossa jornada; para nos causar alegria e um sentimento de gratidão. A beleza nos lembra também de como devemos buscar essa harmonia, proporção e doação de si mesmo, para participarmos refletirmos melhor a Beleza eterna e nos tornarmos um canal de alegria para os outros.

Ataque contra a beleza

A idade moderna, principalmente através da arte, iniciou um processo de ataque contra a beleza. Em uma atitude de rebeldia, começaram a retratar a desordem, a confusão, o abstratismo, demonstrando como estavam sentindo e esse sentimento era ruim. A partir daí, iniciou a tentativa de tirar a objetividade da beleza, passando para uma área totalmente subjetiva ao afirmar que “a beleza está nos olhos de quem vê”.

Esse ataque contra a beleza tem o objetivo de nos tirar a possibilidade de contemplação do Criador e assim nos afastar do caminho que nos leva a Ele. Infelizmente essa mentalidade já está muito entranhada em nossa sociedade e se reflete não só na arte, mas até na maneira de vestir, sendo comum o uso de roupas rasgadas, desbotadas, manchadas. As pessoas não se preocupam mais em se vestir bem e muitas ainda querem chamar a atenção usando roupas estravagantes.

A busca da Beleza

A busca da beleza deve ser encarada de uma maneira correta e está relacionada com a virtude da ordem. É possível perceber a beleza nas coisas pois nosso cérebro busca a ordem e a harmonia. A maneira como pensamos melhor é quando o ambiente está organizado. Não só o ambiente externo, mas principalmente o nosso interior. A desordem causa estresse, nervosismo, frustração.

Buscar a beleza significa buscar harmonizar nossa vida, nossos relacionamentos e também o ambiente em que vivemos. Colocar as coisas em ordem, saber que existe uma hierarquia de valores que precisamos seguir, se desejamos ter uma vida mais plena, mais saudável, mais bela. Saber que é importante ter a beleza em nosso dia a dia para nos ajudar a contemplar o Criador e nos lembrar para que fomos criados: para um dia, gozar da alegria eterna no Céu.

Alguns cuidados

Precisamos cuidar para não exagerar nessa busca da beleza. Muitas vezes esse anseio pelo belo é confundido com uma necessidade de aparentar uma eterna juventude, onde as marcas da idade são desprezadas. São realizados inúmeros procedimentos estéticos para tentar alcançar uma suposta beleza exterior, porém os resultados muitas vezes são bizarros.

Devemos lembrar que a beleza é harmonia, é proporção, é ordem. Uma pessoa de 60 anos que quer aparentar ter 30, não é harmônica, está em desordem. Assim, não importa a quantidade de procedimentos estéticos que faça, não será bela.

A beleza exterior deve refletir a beleza interior. Assim, a maior preocupação deve ser com ter uma alma bela, com os sentimentos e emoções ordenados, com os instintos controlados e com uma vida sobrenatural abundante. Quanto mais próximos estivermos de Deus, melhor poderemos refletir sua Beleza. Esse é o verdadeiro segredo.

Foto de Sean Oulashin na Unsplash

sábado, 27 de janeiro de 2024

QUEM ESTAMOS IMITANDO?

 


A maneira mais eficiente de adquirir uma habilidade é praticando aquilo que queremos aprender. Nós sabemos andar porque alguém nos pegou pela mão e nos mostrou como se anda. Nós imitamos seus passos. A grande maioria dos hábitos que temos, os adquirimos observando alguém, imitando seu comportamento. Desde crianças observamos as pessoas ao nosso redor e tentamos fazer o que o outro está fazendo.

Na fase da adolescência é mais fácil de percebermos essa imitação. Normalmente os jovens se reúnem em “tribos” que falam da mesma maneira, se vestem da mesma maneira, ouvem as mesmas músicas, frequentam os mesmos lugares e praticamente pensam da mesma maneira. Conversar com um da turma é a mesma coisa que conversar com todos.

Mesmo quando adultos, frequentemente nos pegamos imitando a atitude de alguém sem perceber. Quantas vezes você não disse algo para seu filho e depois pensou: “nossa, falei igualzinho meu pai/minha mãe?”

Somos seres sociais

O ser humano sempre está buscando referências. Somos seres sociais, nascemos para viver em comunidade e essa imitação de comportamento acaba criando uma certa harmonia social, nos sentimos mais seguros em um ambiente onde sabemos como o outro vai se comportar. Mesmo sendo seres únicos e irrepetíveis, com um DNA exclusivo, nossa tendência é nos conformarmos com o ambiente e quem é muito diferente acaba ficando marginalizado.

No mundo agitado em que vivemos, fazer o que os outros fazem sem muita reflexão, acaba sendo um comportamento comum, pois agir por si mesmo requer esforço e reflexão. Só consegue nadar contra a corrente quem tem uma personalidade firme e livre: firme porque está enraizada em princípios sólidos e livre porque não está presa nos sentimentalismos ou nos próprios instintos e desejos.

Porém, mesmo essa pessoa com personalidade firme e livre, que não está seguindo a “massa”, possui um modelo, uma referência que procura imitar. O ser humano imita e essa é uma realidade da qual não podemos fugir. Assim a grande questão é: quem estamos imitando?

Nosso modelo: Jesus Cristo

Para o cristão, nosso grande modelo é Jesus Cristo. É a ele quem devemos procurar imitar, mesmo se nos tornarmos excluídos por causa disso. Imitar Jesus Cristo diretamente pode parecer um pouco intimidador, afinal Ele é Deus. Mas existem muitas pessoas que conseguiram conformar sua vida aos ensinamentos de Jesus, e estas são um pouco mais acessíveis a nós. A Virgem Maria, em primeiro lugar é um grande exemplo a ser imitado, com sua disponibilidade para fazer a vontade de Deus e todas as virtudes que desenvolveu em sua vida. Podemos nos inspirar ainda na vida de tantos santos, que em diferentes épocas e estados de vida, cada um com a sua originalidade, também foram fiéis imitadores de Jesus.

Hoje temos acesso à vida e ao comportamento de milhares de pessoas através das redes sociais. Ser “influencer” se tornou até uma profissão! Porém precisamos ficar atentos a quem deixamos influenciar a nossa vida e a nossa família. E nós também precisamos nos formar e fortalecer para sermos boa influência para quem nos rodeia, principalmente para nossa família.

Na prática

Como fazer isso? Em primeiro lugar tomando consciência de que temos essa tendência de imitar e fazendo uma análise de nossa vida para ver quem são os nossos modelos, quem estamos imitando ou gostaríamos de imitar. Depois podemos conhecer melhor a vida dessas pessoas, suas lutas, suas circunstâncias para ver em que grau é possível a imitação. E por último ter a consciência de que podemos tentar imitar as atitudes, mas sempre teremos nossa originalidade. Nunca seremos exatamente iguais a ninguém, então o mais importante é ver como podemos reproduzir aquele comportamento em nossa realidade, no estágio da vida em que estamos.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

UMA NOVA OPORTUNIDADE

 

Logo após as comemorações do Natal, já nos preparamos para comemorar a chegada de mais um ano. Mais uma vez nos enchemos de esperança, de planos e projetos, afinal é um ano NOVO. O que será que acende em nós essa esperança? Por que ficamos tão animados e empolgados? O dia 1º de janeiro não é um dia como outro qualquer?

Deus é um exímio pedagogo, que educa seus filhos para que possamos buscar encontrá-lo em nossa vida e andar no caminho que nos conduzirá à eternidade com Ele no Céu. Pensando nisso, Deus criou a natureza de forma cíclica: percebemos a passagem do tempo não só em nosso corpo, com o envelhecimento, mas principalmente com as diferentes estações do ano.

As diferentes estações do ano são uma forma maravilhosa que Deus utiliza para nos ensinar sobre a transitoriedade da vida e também para nos ajudar a termos esperança de uma nova fase, de um novo começo. Ficamos felizes na primavera ao ver as flores crescendo; super empolgados no verão com tanta vida nascendo, tantos frutos; começamos a ficar mais introspectivos no outono com a vida indo embora e mais apreensivos no inverno, onde parece que tudo está morto.

Mas mesmo no inverno, sabemos que não precisamos ficar apreensivos por muito tempo, pois temos a certeza de que a primavera virá. E essa certeza da primavera, essa esperança que no seu tempo o inverno acaba, é que nos move a seguir em frente, vivendo um dia de cada vez.

Aqueles que vivem em lugares onde as estações do ano não são tão bem definidas (como é aqui no Brasil), podem perceber essa passagem do tempo através do calendário, com a contagem dos meses e podemos entender esse ciclo da vida mais especialmente com o calendário litúrgico.

O ser humano, com suas limitações e falhas, precisa de esperança (uma das virtudes teologais) para conseguir progredir, tanto na vida material, mas principalmente na vida espiritual. E justamente vivermos de forma cíclica, experimentando as diferentes estações e contando os meses do ano, nossa esperança aumenta ao lembramos que no dia 1º de janeiro, inicia o ano novo, recebemos uma nova oportunidade.

Uma nova oportunidade de fazermos melhor, de mudar algum aspecto da nossa vida material, como um novo emprego, um novo carro, uma nova casa. Pode ser uma nova oportunidade para nos reconciliarmos com alguém, para fazer novos amigos, para abrir nossa família para a vinda de outro filho ou para a chegada de genros e noras. Ou ainda uma nova oportunidade para vencermos algum defeito de nossa personalidade, estimularmos ainda mais alguma qualidade que podemos fazer frutificar.

Eu fico encantada em pensar na bondade da providência divina em colocar o dia 1º de janeiro bem no meio do inverno para quem vive no hemisfério norte, justamente onde essa estação é sentida de maneira mais forte... Um impulso quente de esperança no meio do frio do inverno...

Nessas resoluções e projetos para o novo ano, talvez a mais importante seja relativa ao nosso relacionamento com a Santíssima Trindade, afinal nossa meta é o Céu. No fim de nossa jornada na terra, seremos julgados pelo Amor e o que levaremos em nossa bagagem é somente aquilo que fizemos por amor, para o amor e através do amor.

Então coragem! Vamos aproveitar essa nova oportunidade de recomeço, vamos fazer um balanço de como foi o nosso ano e escolher alguma forma de crescermos em nosso amor a Deus. Pode ser melhorar nossa oração diária, fazer alguma leitura espiritual regularmente, rezar o terço diariamente (ou pelo menos uma dezena), talvez incluir a santa missa um dia a mais na semana, ler regularmente a Bíblia, enfim, cada um precisa ver o que pode ser feito. E escolher uma coisa só para começar, sendo fiel nesse pouco, nesse único propósito. Depois, no fim do ano, agradecer pelas conquistas, pedir perdão pelas falhas e sempre ter coragem de recomeçar!

 

Foto de BoliviaInteligente na Unsplash

sábado, 25 de novembro de 2023

ATENÇÃO E INTENÇÃO



Vivemos num mundo super agitado, com milhares de informações sendo apresentadas para nós a cada momento, seja no computador, na rua, no celular. Tudo quer chamar a nossa atenção. Em 2015, a Microsoft publicou um estudo que a atenção do ser humano havia diminuído de 12 para 8 segundos em apenas 13 anos. O mais chocante talvez seja a informação de que um peixinho dourado consegue manter a sua atenção por 9 segundos...

Cada vez que mudamos o foco da nossa atenção para uma novidade, seja uma notificação de mensagem ou um novo reels do Instagram, nosso cérebro recebe uma descarga de dopamina, um hormônio que gera a sensação de prazer. Assim, somos “recompensados” por desviar nossa atenção. E isso pode nos viciar. O quadro fica ainda mais preocupante se pensarmos no cérebro infantil, que ainda não está totalmente formado e os danos causados por essa constante mudança no foco da atenção podem se tornar permanentes.

O que fazer então? Não é mais possível retroceder para voltarmos a viver em um mundo sem a tecnologia e certamente isso não seria um bem, pois a tecnologia nos ajuda em inúmeros aspectos de nossa vida a vivermos melhor. A questão é aprendermos a utilizar as nossas telas de uma forma mais equilibrada, não sendo vítimas dos algoritmos que querer roubar nossa atenção.

Como em todo processo de mudança, o primeiro passo é sempre reconhecer que existe o problema, que realmente estamos fazendo as coisas sem a devida atenção e que nos distraímos com muita facilidade. Depois, precisamos lembrar que o nosso cérebro funciona melhor em um ambiente organizado, pois ele está programado para colocar ordem nas coisas. Em um ambiente desorganizado, ele perde tempo tentando concentrar, mas preocupado com a bagunça exterior. Assim, o segundo passo é buscar viver a virtude da ordem.

Essa ordem não é só no ambiente externo que vivemos, trabalho, casa, mas também nos horários que fazemos as coisas. Ter uma rotina diária ajuda o nosso cérebro a focar naquilo que é importante, pois ele sabe o que acontecerá na próxima hora e não precisa se preocupar com isso. Tirar as notificações do celular e colocar horários determinados para acessar nossas redes sociais também pode ajudar.

Por fim, vem o esforço para colocar intenção naquilo que estamos fazendo. S. Josermaria Escrivá dizia: “Faz o que deves e estás no que fazes”, ou seja, faça aquilo que você deve fazer naquele momento e coloque toda sua atenção naquilo que está fazendo. Em outras palavras, colocar intenção, fazer intencionalmente aquela tarefa, para que ela seja bem-feita. O P. José Kentenich também dizia: “Faça o ordinário, extraordinariamente bem”.

Se vivermos nosso dia com atenção e intenção, ao chegar a noite e repassarmos os acontecimentos, teremos aquela sensação de dever cumprido. Mesmo se as coisas não aconteceram da forma que planejamos, o fato de nos preocuparmos de viver cada minuto com a intensidade devida, cumprindo nosso dever da melhor forma, com a reta intenção de dar o nosso melhor, isso já basta para nos proporcionar essa sensação de paz e tranquilidade, bem diferente do stress experimentado por um dia agitado, quando fazemos as coisas pela metade.

Peçamos ao nosso santo anjo da guarda que nos ajude nessa difícil tarefa de cumprir bem nossos deveres e colocar toda nossa atenção e intenção naquilo que fazemos.

 

Foto de Anna Dziubinska na Unsplash

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

ONDE SUA RAIZ ESTÁ PLANTADA?

 



A função da raiz numa planta é fixá-la no solo e absorver água e outros nutrientes, sendo essencial para a vida da planta. A raiz fica normalmente escondida embaixo da terra e quanto maior é a árvore, mais profunda está sua raiz.

O ser humano também cultiva sua raiz, não de forma biológica como as plantas, mas de forma espiritual, emocional, intelectual. Nós também precisamos de nossas raízes para nos estabelecermos na vida e nos abastecermos para enfrentarmos as diferentes dificuldades que a vida nos traz. Então a questão é: onde a sua raiz está plantada? Onde está o alicerce da sua vida, o local de onde você retira os nutrientes para sustentar seu espírito e produzir fruto?

O primeiro local onde começamos a crescer nossas raízes é no seio de nossa família. O amor e o cuidado que recebemos durante os anos de infância estimula o crescimento e o fortalecimento de nossa vida espiritual e emocional. Se tivemos algum tipo de trauma ou negligência nesses primeiros anos de nossa vida, nossas raízes já ficam prejudicadas. Mas sempre é possível replantá-las num lugar onde possam crescer e nos ajudar a dar fruto.

Nos anos da adolescência, onde começamos a refletir sobre quem somos e o que queremos ser, ficamos desorientados e corremos o risco de fixarmos nossas raízes em solo pedregoso, aquele da busca do prazer e da satisfação imediata. Quem tem raiz em solo desse tipo, não suporta a menor adversidade: o sol forte pode queimar e um vento mais forte pode arrancar.

O único solo onde estaremos verdadeiramente seguros e de onde podemos extrair os nutrientes necessários para termos uma vida emocional e espiritual saudável e fecunda é o amor de Deus. Saber que somos infinitamente amados, que fomos desejados, que temos uma missão para cumprir, que devemos dar frutos de amor, de justiça, de paz, de misericórdia. Isso tudo se torna verdade quando nossas raízes estão fixadas no amor infinito do Pai.

Mas como transplantar nossas raízes para esse solo fecundo? O primeiro passo é o querer, é o desejo de estar enraizado em Deus. Depois precisamos nos livrar de todo pecado grave, através do sacramento da Reconciliação. Lutar para permanecer em estado de graça, mas se cair, levantar-se e correr para os braços misericordiosos do Pai que nos espera no confessionário. Fortalecer esse desejo de estar no Pai através da eucaristia, o mais frequente que pudermos. Quanto mais recebermos Jesus que está realmente presente na sagrada Eucaristia, mais nos enraizaremos no amor do Pai.

E por fim, a oração, o contato direto do nosso coração com o coração do Pai. Rezar é conversar com Deus, da mesma forma que conversamos com quem amamos. Com simplicidade, com intimidade, com reverência e profunda gratidão. Deus é uma pessoa que está constantemente tentando entrar em contato conosco, através das coisas, da natureza, das pessoas e dos acontecimentos diários de nossa vida. Se pararmos para prestar atenção, é possível perceber esses sinais e responder esse chamado de amor com nossa oração.

Peçamos ao nosso anjo da guarda, a criatura que mais nos ama nesse mundo, com amor totalmente incondicional que só quer a nossa salvação, que nos ajude a aprofundarmos nossas raízes no amor do Pai, para que cresçamos fortes e produzamos abundantes frutos. 


Foto de Jeremy Bishop na Unsplash

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

O DESEJO É FUNDAMENTAL

 





O ser humano é composto de corpo e alma; tanto um como outro são movidos pelo desejo. O desejo tem um poder imenso e uma força avassaladora. É o desejo que move nossos instintos para comer, beber, descansar, ter relações sexuais. É o desejo que nos faz sair da cama todos os dias para cumprirmos nossas obrigações e construirmos nossa vida. A falta de desejo, em qualquer área de nossa vida, pode ser sinal de alguma doença (física ou emocional) e pode até levar a morte!  

O desejo é como um foguete com grande propulsão que pode nos levar às alturas e à imensa felicidade, mas se ele for apontado para o lado errado, para nós mesmos, pode ser causa de nossa autodestruição. Então a chave para usar o desejo a nosso favor é perguntar: o que eu desejo? E por que eu desejo isso?
Existem os desejos básicos da nossa natureza que são relativamente fáceis de serem atendidos: comer quando se está com fome, beber quando tem sede e descansar quando está cansado, entre outros. O problema começa quando começamos a acrescentar qualidades a esses desejos, como o tipo de comida ou bebida; o lugar ou a quantidade de descanso... Podemos desejar coisas materiais mais difíceis, como uma casa, um carro, uma viagem. Os desejos podem ser mais complexos e amplos, como o desejo por poder, por uma posição social, pela fama e riqueza. 

Ao analisarmos a nossa própria vida e a sociedade em que vivemos podemos concluir que é muito difícil chegar ao ponto de ter todos os desejos atendidos. Sempre que conseguimos algo que desejávamos, começamos a desejar outra coisa... E qual é a raiz disso? Por que parecemos sempre insatisfeitos? 

Santo Agostinho já dizia: “inquieto está meu coração enquanto não repousar em Ti, meu Deus”. Com as coisas materiais é relativamente fácil saciar os desejos do nosso corpo, mas como somos corpo e alma, existe algo em nós, um tipo de desejo, que jamais será saciado enquanto estivermos nessa vida terrena. É o nosso desejo pelo infinito. O nosso corpo terá um fim, quando morrermos, mas a nossa alma é imortal e não pode ser inteiramente saciada com as coisas desse mundo. 

Deus colocou esse tipo de desejo insaciável em nossa alma por uma única razão: para lembrarmos que fomos feitos para a eternidade! E se fomos feitos para a eternidade, devemos, desde já, vivermos de uma forma que possamos ser eternamente felizes e realizados. Por isso, o mais importante que podemos fazer nessa vida é desejar o Céu.

O desejo pelo Céu tem um poder incrível. Ele nos move a escolher sempre aquilo que vai nos ajudar nessa meta; a buscar viver uma vida de virtudes, procurando sempre o bem, o belo e o verdadeiro. É muito importante renovar esse desejo frequentemente. Dizer mesmo, em nossa mente: eu quero ir para o Céu! Eu quero ser eternamente feliz em Deus, que me criou para isso!

É o desejo pelo Céu que moveu a vida de tantos santos, dando força e alegria para enfrentarem os maiores sofrimentos, incluindo o martírio. Sabemos que o mais perto que podemos chegar do Céu nessa vida é receber Jesus, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade na Sagrada Eucaristia. No livro “Imitação de Cristo”, Tomás de Kempis reza: “Com suma devoção e abrasado amor, com todo afeto e fervor do coração, desejo receber-vos Senhor na Sagrada Comunhão, como desejaram muitos santos e pessoas devotas que vos eram tão caras (...) Oh amor eterno, meu único bem, felicidade interminável, desejo receber-vos com fervor mais veemente e com a reverência mais digna qual jamais teve nem pode sentir nenhum dos vossos santos. E ainda que eu seja indigno de ter aqueles admiráveis sentimentos de amor, ofereço-vos todo o afeto do meu coração, como se eu só estivesse animado de todos aqueles inflamados desejos.”

Então, vamos analisar nossa própria vida e tentar enxergar como podemos direcionar melhor nosso “foguete” do desejo para aquilo que realmente importa: o Céu. Muitas coisas são necessárias para conseguirmos viver dignamente, mas nosso desejo não pode estar direcionado a elas. Elas são apenas meio, não o fim. Nossa meta é o Céu. 


Foto de Iván Díaz na Unsplash


sábado, 29 de julho de 2023

ENVELHECER: PRESENTE DE DEUS

 

Vivemos em uma época em que envelhecer é considerado um grande mal a ser evitado. Procedimentos estéticos de todos os tipos prometem a eterna juventude. As roupas, modo de falar, atitude dos jovens são adotadas por pessoas de todas as idades. Ninguém mais quer parecer idoso. Até os pronomes de tratamento “senhor” e “senhora” são vistos de maneira negativa.

O problema desse modo de viver é que as pessoas não querem enxergar a realidade, as circunstâncias da vida que fazem parte de sua existência. Assim, vivem no “mundo da imaginação” e perdem a oportunidade de efetivamente deixar sua marca na história, principalmente na história daqueles que convivem com elas.

Cada fase da vida tem sua beleza, seus desafios, sua importância para o amadurecimento. O jovem tem muita disposição e vigor físico, mas sua imaturidade e impulsividade pode atrapalhar a tomada de decisões coerentes. A pessoa mais velha, pela experiência dos anos vividos, deveria ser o ponto de referência, o farol para que o jovem se oriente melhor nas decisões de sua vida. Então num mundo onde só há jovens, onde os mais velhos querem ser sempre jovens, todos acabam ficando perdidos e sem saber por onde ir.

Outra desvantagem dessa “eterna juventude” é que se perde a razão pela qual Deus permitiu que a pessoa ficasse velha: aprender a se desapegar. No processo de amadurecimento espiritual, devemos aprender a ir aos poucos nos desapegando das coisas materiais, que são passageiras, para nos fixar no que realmente importa: a vida eterna.

Quem está demasiadamente apegado às coisas e às pessoas tem muita dificuldade em se entregar a Deus, em entender a transitoriedade dessa vida terrena, de saber que um dia vai deixar para trás esse corpo mortal e todas as coisas materiais. Quem tem essa visão materialista da vida, pensando que a felicidade completa se tem aqui nesse mundo, perde a oportunidade de realmente se preparar para a vida em plenitude, que começa com a nossa morte.

E para nos ajudar nesse difícil processo, Deus criou a velhice. Com a velhice, nosso corpo pouco a pouco vai se deteriorando, ficando mais fraco, mais feio e tudo isso acontece para nos lembrar que o mais importante não é a matéria, mas a alma imortal. Seria extremamente difícil para o ser humano entender essa dinâmica do desapego se nunca envelhecêssemos.

Uma pessoa jovem, em pleno vigor físico, não encara a morte como uma passagem para uma vida melhor. A morte é uma tragédia, afinal o jovem está vivendo o agora de uma maneira exuberante. Porém, o idoso percebe melhor a vida indo embora e tem a capacidade (ou pelo menos deveria ter) de abraçar a morte como uma amiga que o levará aos braços do Criador.

Vamos encarar a velhice como ela realmente é: uma grande graça! Uma oportunidade para aprofundarmos nosso amor a Deus e às pessoas que nos cercam. Claro que não é fácil; não é gostoso ver a vida e o vigor indo embora, mas devemos abraçar a velhice como um processo pedagógico que o Pai usa para nos preparar para o nosso encontro com Ele e a vida eterna.

 



Crédito da foto: Foto de JW. na Unsplash