A figura materna normalmente
remete a uma sensação de carinho, aconchego, cuidado e ternura. A mãe é aquela
que, desde que o filho se encontra em seu ventre, protege, nutre, acolhe.
Oferece todas as dores e sofrimentos oriundos da maternidade para o bem do
filho, para que ele se sinta amado e feliz e assim possa cumprir a missão para
qual ele foi criado.
A mãe vibra com cada pequena
conquista do filho, cada nova habilidade que adquire. Os primeiros rabiscos são
verdadeiras obras de arte, a primeira prova de matemática bem-feita já merece o
prêmio Nobel, o “brilha, brilha estrelinha” tocado no piano já é um lindo
concerto.
Conforme o filho cresce, a mãe
vai entendendo que sua função muda, não é mais a principal fonte de informação
e cuidado, mas sempre será o apoio que o filho precisa para se sentir acolhido
e amado. Ela aprende a opinar quando é solicitada e a calar, muitas vezes
quando desejaria gritar para ajudar o filho, mas sabe que o erro faz parte do
amadurecimento e crescimento do filho.
Quando o filho constitui sua
própria família, a mãe respeita o espaço e as decisões desse novo casal, acolhe
a nora como própria filha e quando chegam os netos... aí ela pode reviver todos
os momentos maravilhosos da infância sem a responsabilidade pela educação e
pode mimar aquelas fofuras. E quando chega a hora de partir desse mundo, deixa
uma lembrança doce e suave e uma inspiração para a nova geração de mães...
A mãe ruim
Mas... e se na vida real a sua
mãe não for assim? Existem muitas mulheres que não sabem exercer essa
maternidade abnegada e acabam prejudicando a vida dos filhos. Pode ser por
falhas de caráter, por alguma condição mental, abuso de álcool ou drogas, ou
puro egoísmo. O filho normalmente começa a perceber isso a partir da
adolescência, mas é só na vida adulta que realmente pode conseguir enxergar que
sua mãe não cumpre as funções de uma verdadeira mãe e que pode ser considerada
uma mãe ruim.
O primeiro sentimento que aparece
é o de culpa. O filho se sente culpado por não admirar a mãe como uma mãe deve
ser admirada e amada. É um sentimento confuso: amo minha mãe, mas não gosto
dela... A convivência é difícil, discussões e brigas, muitas vezes ofensas,
fazem parte desse relacionamento. E o filho sabe que não deveria ser assim, por
isso se sente culpado.
Então, o primeiro passo deve ser
aceitar a sua própria realidade. Minha mãe é assim e não há nada que eu posso
fazer para mudar o jeito dela. Não cabe a mim julgá-la, isso é papel somente de
Deus que vai analisar as circunstâncias da vida dela, mas simplesmente aceitar
a minha realidade: a minha mãe não é uma boa mãe.
Lidando com o trauma
O segundo passo é talvez o mais
difícil: o perdão. Preciso aprender a perdoar a minha mãe pelos males que ela
possa ter causado em minha vida. Perdoar não significa que preciso aceitar
agressões e maus tratos, muitas vezes será necessário um afastamento, mas
perdoar é aceitar que ela tem as dificuldades e os traumas dela e que por isso
não conseguiu ser a mãe que eu precisava que fosse.
Perdoar é lembrar que, talvez se
eu tivesse tido as mesmas circunstâncias da vida dela, tivesse sofrido os
mesmos traumas e carências, pode ser que eu seria muito pior... Muitas vezes se
não consigo perdoar a atitude, devo ao menos tentar perdoar a intenção: o que
ela fez ou faz, na mente dela, é para o meu bem, é porque me ama do jeito dela.
Devemos rezar muito nessa intenção de conseguir perdoar uma mãe ruim e também rezar por ela, para que receba as graças necessárias para conseguir ter paz e quem sabe superar os próprios traumas e ser uma mãe melhor.
Eu tenho uma Mãe perfeita
Para ajudar a superar esses
traumas e para ter um mínimo de convivência pacífica com uma mãe ruim, devemos
lembrar que Jesus nos deu uma Mãe perfeita: sua própria Mãe, Maria Santíssima. A
Mãe de Deus é verdadeiramente minha mãe e nunca vai me decepcionar, sempre vai
cuidar de todas as minhas necessidades e posso pedir colo a ela sempre que
precisar que ela vai me atender.
Nossa Senhora deve ser também o
melhor exemplo de mãe para eu seguir e não repetir os erros da minha própria
mãe. Isso é um cuidado que quem não teve uma boa mãe precisa ter, não fazer com
os próprios filhos o que sofreu com sua mãe. Devo lembrar de pedir ajuda a
Maria em todos os momentos para a educação dos meus filhos. Consagrar os filhos
aos cuidados de Nossa Senhora desde pequenos também é de grande ajuda para a
mãe.
O dever de cuidado na velhice
Conviver e aprender a lidar com
uma mãe ruim é uma cruz que o filho deve carregar com resignação. Esse
sofrimento, suportado por amor a Jesus, é uma grande fonte de santificação e de
bons frutos para toda sociedade. E pode chegar o momento em que a cruz pode
ficar mais pesada, quando o filho precisa cuidar mais intensamente dessa mãe na
velhice.
O 4º mandamento da Lei de Deus
nos manda honrar pai e mãe, ou seja, não importa a situação, por ser filho,
tenho responsabilidade no cuidado e sustento dos meus pais. E o Senhor orienta:
“Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes
forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida, e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa”.
(Eclo 3,15-16)
Deus é sempre fiel às suas
promessas. Não sabemos o que ainda termos que enfrentar nessa vida, inclusive
os problemas com nossos próprios filhos, então, devemos cuidar da melhor forma
de uma mãe idosa, mesmo que ela tenha sido ruim durante sua vida, pois teremos
uma recompensa. Essa recompensa, ao final, podem ser frutos de vida eterna,
inclusive para a sua própria mãe.
Foto de Teslariu
Mihai na Unsplash